O comentário de hoje é relacionado com a notícia dada pelo blog do Ricardo, o FilmesNetflix (notícia: http://filmes-netflix.blogspot.com.br/2012/08/ancine-cobrara-ate-r-3-mil-por-cada.html), dando conta que a Ancine (Agência Nacional do Cinema) deve passar a cobrar um imposto sobre obras internacionais sem coprodução local e disponíveis para consumo sob demanda. Quem quiser saber mais é só ler a notícia e os comentários (furiosos, claro) dos visitantes do blog.
Meu objetivo é apenas um, colocar meu ponto de vista sobre o assunto. Se compararmos a qualidade das nossas produções nacionais com a elite internacional (Hollywood e as TVs americanas), claro que perdemos de lavada. E obviamente o interesse de qualquer consumidor de mídia é pelas produções estrangeiras, basta ver a quantidade de filmes nas locadoras, pay-per-view, streaming, sites de vendas. Salvo raríssimas exceções, nossas produções são fracas e de baixa qualidade. Então, como o governo pode ousar querer se aproveitar do interesse dos brasileiros pelo que realmente presta, para fazer dinheiro voltado para o desenvolvimento do nosso cinema - quando na verdade todos sabem que esse será o menor beneficiado com tudo isso?
Vai longe o tempo em que tudo nesse país tinha que ser alimentado por impostos. Muitos filmes nacionais contam com vários patrocinadores, ou no mínimo com o apoio da Globo, que por seus próprios interesses empresta atores, divulga nas novelas, etc. Também acredito que muita gente boa e que poderia estar somando ao cinema nacional é refém desse sistema, que injeta dinheiro em quem é conhecido e investe pouco em produções ou diretores iniciantes. Mas isso é uma questão de organização da própria agência.
Para nós, em termos práticos, uma decisão dessas é temerosa. Além do absurdo da tributação, impressionam os valores sugeridos: R$ 3000,00 para filmes, R$ 750,00 para episódios. Talvez para algumas empresas não pareça muito, mas isso desestimula as empresas menores, encarece o serviço das maiores e até cria uma armadilha, onde um serviço de streaming terá que pesar se aquele filme pouco conhecido, e que pode não ter muito sucesso no serviço, custará 3 mil apenas por estar em seu catálogo.
O streaming vem se mostrando na verdade um grande aliado contra a pirataria, que tanto prejudica as distribuidoras e o próprio governo. Uma pessoa cercada de dois ou três bons serviços de streaming não precisa ficar comprando filmes no camelô. O governo deveria enxergar isso: os benefícios do serviço e as oportunidades que surgem com ele, como o estímulo à melhoria das conexões de internet, o declínio do uso da banda para torrents... não, acho que isso é esperar demais do nosso governo. Num país onde predomina a desinformação e a falta de visão de futuro, a ganância e a corrupção, a ideia de que é mais fácil se encostar em esmolas do governo do que trabalhar duro para conquistar os incentivos para a produção nacional, isso é apenas o retrato do que já sabemos: enquanto alguns trabalham duro para conquistar um pouco, outros não fazem nada para ficar com o dinheiro dos impostos que todos nós pagamos. Vergonha!
Mensagem que enviei na ouvidoria da ANCINE neste data:
ResponderExcluir"Venho aqui engrossar o coro dos descontentes com a ideia de taxar os títulos das empresas de streaming para "ajudar a produção nacional" (Instrução Normativa nº 105). O desenvolvimento desse mercado de streaming só trará benefícios ao governo com a diminuição da pirataria e a popularização dos meios "legais" para consumo de conteúdo multimídia, com o consequente aumento na arrecadação de impostos. Os valores sugeridos para pagamento, das empresas de streaming e das tvs por assinatura, são ridículos e um verdadeiro absurdo para quem quer investir no mercado nacional. Talvez os grandes possam pagar, mas onde está a livre concorrência? Se serviços mais modestos quiserem se especializar em determinado tipo de conteúdo (como animes, por exemplo, que é um mercado interessante para ser explorado), terá que pagar um valor desses por título e por episódio de seriado? Só uma criança inocente pode acreditar que essa iniciativa só servirá para o bem do nosso cinema, o mundo real nos mostra que tanto dinheiro só pode servir para desvios ou para encher o bolso de muita gente desocupada que não sabe ganhar dinheiro por sua própria conta. O governo já ganha com os impostos pagos por essas empresas com a prestação de serviço que realizam. Querem investir no mercado nacional? Sugiram cotas de programação nacional para esses mercados, como fizeram para a tv por assinatura - mas sem essa imposição ferrenha que tem se mostrado ruim até para os canais que apoiam o conteúdo nacional. Taxar todos os programas, até das tvs por assinatura, provocará um resultado inverso: muitos irão pensar duas vezes se vale a pena disponibilizar determinado filme ou seriado, pois correm o risco do lucro não compensar o investimento. Espero realmente que vocês mudem essa Instrução Normativa e busquem através de seu trabalho investir na popularização do conteúdo brasileiro nas mídias através de parcerias de conteúdo, e não juntar dinheiro sob esse pretexto. Sinceramente, ninguém mais acredita nesse tipo de boa intenção."